Por que traí minha esposa com um homem


Essa é uma história do meu passado. Meu único pedido é que, você leitor, não me condene pelas coisas que está prestes a ler. Pelo menos tente enxergar como uma forma de testemunho. Talvez no fim das contas minha história possa te edificar de alguma forma. 

Eu e Lívia somos casados há pouco mais de três anos, como alguns sabem. Inclusive quero deixar claro que ela autorizou a publicação desse texto, uma vez que, a história dela também está envolvida aqui.

É muito louco dizer isso, mas eu nunca havia pensado em trair minha esposa. Sinceramente, eu nunca sequer me imaginava fazendo algo dessa natureza e, por fim, nunca me senti atraído por uma pessoa do mesmo sexo. Entretanto, sem sequer me dar conta, eu já estava envolvido com uma alguém. Não demorou muito para que Lívia começasse a desconfiar e a ficar visivelmente insegura. 

As coisas ficaram estranhas e uma distância horrível se abriu entre nós dois. Confesso que resisti algum tempo em assumir isso para mim mesmo, mas esse foi o primeiro passo para que eu contasse tudo para ela. Eu tive que abrir o jogo.

Aquela foi uma noite muito constrangedora. Com os olhos tristes e cheios de lágrimas eu confessei meu pecado à minha esposa. Contei-lhe absolutamente tudo, pois este é o único caminho para a verdade. Contei a ela inclusive que o homem com quem eu estava me relacionando amorosamente era um conhecido nosso. Minha mulher que até então ouvia tudo calada juntou coragem em meio à tristeza e me fez a pergunta mais difícil de todas:

"Quem é este homem? "

Com vergonha, respondi:

"Eu sou este homem..."

Se a sua ficha ainda não caiu, bem-vindo ao clube amigo. Não se assuste, a maioria de nós, homens, demora a reconhecer. Não se avexe, lembre-se do que aconteceu com o rei Davi. Ele enviou um homem para a morte só para ficar com a mulher do coitado. Ao cometer tal crime ele se tornou um "amante de si mesmo" (II Timóteo 3:2). Foi por isso que ele ouviu o profeta bradar a acusação:

"Tu és este homem" (II Samuel 12:7).

Eu nunca havia me dado conta de que sempre estive envolvido amorosamente comigo mesmo e com mais ninguém. Já casei assim. Tal como eu, muitos outros homens, talvez a maioria, não foi preparado para o casamento. Sou proveniente de uma cultura hedonista e antropocêntrica na qual o que realmente importa é o meu próprio prazer e a minha realização pessoal. 

Meus planos da juventude envolviam exclusivamente meu crescimento profissional. Acima de tudo estava a minha imagem pessoal, minha fama, meu personagem, minha felicidade, meu sucesso. O casamento era visto apenas como um acessório, e a minha mulher deveria se juntar a mim em meu culto ególatra.

"Sim, meu bem, eu te traí comigo mesmo. Sempre fui fiel a mim em primeiro lugar. Seus conflitos, suas peculiaridades e fraquezas pessoais eram percebidas por mim apenas como barreiras à minha realização pessoal, ao meu sucesso. Eu sou este homem" – eu disse a ela.

Por isso, querido leitor, se você acreditou que esta era uma história de escândalo envolvendo orientação sexual, abandone esta ideia. Este é um testemunho em forma de parábola. Nunca tive e não tenho um caso extraconjugal, nem com uma mulher, muito menos com outro homem. Mas quem disse que as traições começam do lado de fora? 

Como ensina o poeta, "saiba, traições são bem mais sutis". Ao contrário do que se pensa, as traições não começam do lado de fora, mas do lado de dentro, no íntimo do coração, quando você passa a se colocar sempre em primeiro lugar. O princípio de todo adultério é este: um coração que é "amante de si mesmo". Infelizmente, cada vez mais, as pessoas têm se tornado amantes de si mesmas e isso tem tornado relacionamentos em desafios insustentáveis. 

Você pode nunca ter traído seu cônjuge com outra pessoa, mas em seu coração você é um(a) "amante de si mesmo(a)". Ser "amante de si mesmo" é o primeiro passo tanto para casos extraconjugais quanto para outras formas de adultério.

Em Efésios 5:28, a ordem bíblica das coisas é: "quem ama a sua mulher, ama a si mesmo" e não o inverso. Se um homem é "amante de si mesmo" ele se torna incapaz de amar a sua mulher. Casamento é, em essência, separação, por isso é santo. Ser santo significa ser separado. A primeira separação é o divórcio de si mesmo. 

Para amar minha esposa, preciso deixar de ser um amante de mim mesmo e essa é uma decisão cotidiana, diária. Por essa razão, naturalmente, eu ainda estou nesse processo de divórcio. Jesus é o advogado que está mediando a situação. Em se tratando do pecado, o processo é sempre litigioso.

O casamento é um convite de Deus para que experimentemos o verdadeiro significado do Amor, e por isso o casamento é um lugar para o conhecimento do próprio Deus, pois Deus é amor (I João 4:8). O amor de um homem por uma mulher deve ser exercido em sua acepção sacrificial. Entregar a si mesmo, nada mais é do que negar a si mesmo. 

A gente sabe que o Amor não busca seu próprio interesse. Mas como empregar tal tarefa se tudo que nós sabemos é amarmos a nós mesmos? Somos egoístas por natureza, Freud chama isso de Lustprinzip (princípio-do-prazer). Como, então, fazer isso de coração?

Nenhum homem pode fazer isso de si mesmo. É apenas experimentando o amor de Deus, em seu filho, Cristo Jesus, que um homem pode exercer o amor sacrificial. É andando com ele, imitando ele, aprendendo com ele, sendo transformado por ele e seguindo ele em direção à cruz.

Para melhor aproveitamento, releia o texto, só que, agora com esse novo olhar.

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Neemyas Dos Santos
Um pecador salvo pela graça de Deus, marido da Lívia, uma mulher cuja alma é semelhante a um carvalho. Psicólogo e Mestre em Psicologia. Atua como Psicólogo Clínico da Universidade Federal do Maranhão.