O Psicólogo


A última coisa que alguém pode fazer para “ser” um psicólogo de verdade é se transformar em um psicólogo. Mas foi precisamente isto o que eu fiz durante um bom tempo da minha vida. Fiz da minha profissão, minha identidade. Fiz da minha ciência, minha essência. Eu me tornei um psicólogo. Empobreci minha própria existência enquanto era aplaudido. 

Eu não pude perceber que o que eu estava tentando fazer era coincidir com uma ideia proveniente do imaginário hegemônico do que deve ser um psicólogo no Brasil: um ser autossuficiente e, por isso, apto a ajudar outras pessoas, segundo o conhecimento adquirido. O resultado não poderia ser diferente: eu me desumanizei. Eu não era mais o Neemyas, eu era o psicólogo. O que eu descobri, ou me foi revelado a duras penas, é que não, eu não era e nem sou autossuficiente.

Quando a minha alma adoeceu, o Senhor, meu Deus, me fez descer à casa do oleiro (Jeremias 18). Ali ele me quebrou e me refez novamente à Sua maneira. Ele me fez lembrar que eu não sou meu chamado (e profissão). Tal como Aslan quebrou a maldição de Eustáquio, assim, meu Senhor, arrancou toda a couraça que me impedia de ser eu mesmo. A melhor maneira de alguém se humanizar é sendo reformado segundo aquilo para o qual ele foi criado originalmente. Aos olhos de Deus, importa menos o que eu faço do que o que Ele faz em mim, por mim e através de mim. Importa menos o que eu faço e mais o que Ele desfaz em mim.

A psicologia não deveria ser tratada como uma forma de identidade pessoal, ela é uma ciência, e/ou uma profissão. Porém, em muitos ambientes acadêmicos ela é enxergada como uma certa essência que o estudante precisa incorporar ou encarnar. Nunca olvide o verdadeiro perigo de tamanha armadilha: aonde há uma ideia do que é um homem saudável, ali também haverá, antes de tudo, a ideia do que deve ser um homem que cura.

Considere o seguinte princípio: não é varinha que transforma uma pessoa comum em um mago, é, inversamente, o mago que faz da varinha comum uma varinha mágica. Stricto sensu, eu não sou um psicólogo, eu faço psicologia. A psicologia que eu faço é determinada por quem eu sou. Caso esta ordem se inverta, eu automaticamente deixo de oferecer aquilo que meu paciente mais precisa: eu mesmo. Meu paciente não se relaciona com meu conhecimento, nem com a minha técnica, por mais fundamentais que elas sejam, ele se relaciona comigo. Mas quem eu sou?

Hoje meu maior anseio é que meus pacientes tenham a clara percepção de que este profissional que se põe a lhes escutar é um homem morto. Que não existe nada de especial a meu respeito, senão, Aquele que vive em mim. Que eu não posso, nem quero lhes ser suficiente, porque eu mesmo não me basto, senão pela Graça que me foi concedida. 

Eu não sou mais um psicólogo, eu sou o Neemyas, um pecador salvo pela graça de Deus. E isso fez de mim um psicólogo como eu nunca fui em toda minha vida. Que haja em mim o mesmo sentimento que havia em João Batista, de modo que eu conduza minha vida, meu casamento e também a minha profissão segundo o princípio de que “é necessário que Ele cresça e que eu diminua” João 3:30.

Você conhecer algum psicólogo ou estudante de psicologia? Seja ele cristão ou não, envia esse texto pra ele ou ela!


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Comentários

  1. Esse texto foi um resfrecor para minha alma! Obrigada pelas humildes e intrínsecas palavras

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Neemyas Dos Santos
Um pecador salvo pela graça de Deus, marido da Lívia, uma mulher cuja alma é semelhante a um carvalho. Psicólogo e Mestre em Psicologia. Atua como Psicólogo Clínico da Universidade Federal do Maranhão.