Não existe Autoconhecimento


Conhecer-se nunca foi, primordialmente, uma tarefa da filosofia ou da psicologia, mas da religião e da mitologia. “Conhece-te a ti mesmo” era uma inscrição na entrada do Oráculo de Delfos, o centro religioso da Grécia. O conhecimento de si era revelado de modo profético pelas sacerdotisas de Apolo. Para conhecer-se o indivíduo não entrava em si mesmo, ele entrava no templo.

Eu não sou apenas o que sei sobre mim. Minha visão de mim mesmo é sempre insuficiente. A percepção que tenho do meu ser sofre de uma incompletude inerente. Sei que existo não apenas porque me vejo, mas, principalmente, porque sou visto. Não basta ao indivíduo o dado proprioceptivo da consciência interna de si, ele precisa saber que é percebido.

O motivo pelo qual precisamos de espelhos é o mesmo pelo qual se vai ao psicólogo. O ser humano sempre depende do olhar do outro para se conhecer. Portanto, não existe autoconhecimento. Se o coração do homem é o olho da alma, então, por meio dele tudo se vê. Tudo, exceto a si mesmo. Por isso também, todos os homens são religiosos. Martin Buber dizia que a “fé não é nenhum sentimento da alma humana, e sim a entrada do homem na realidade – na realidade inteira, sem cortes nem abreviações”.

O conhecimento de si é, inevitavelmente, dado por revelação. Revelar significa tirar o véu, descobrir, fazer conhecer o que é ignorado. Primeiro eu sou conhecido, depois me conheço a mim. Sempre é assim.

Logo, não há conhecimento de si que seja adquirido sem a contrapartida da fé. Para conhecer-se é preciso confiar, é preciso crer acerca daquilo que não se vê em si, acerca daquilo que é dito sobre você. Você precisa confiar em quem te vê. Aquilo que escapa ao meu olhar, ou seja, o ponto cego do meu ser, só pode ser conhecido quando creio em quem diz me conhecer.

Ciente disto, o Rei Davi orou pedindo: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos”. Davi considerava seriamente a insuficiência do seu conhecimento sobre si mesmo. Ele confiava a Deus, tal tarefa.

E você? Em quem você confia? A quem você tem pedido: “sonda-me!”? Quem são teus oráculos? Quem tem te revelado quem você é? Não se engane, não é você.

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Neemyas Dos Santos
Um pecador salvo pela graça de Deus, marido da Lívia, uma mulher cuja alma é semelhante a um carvalho. Psicólogo e Mestre em Psicologia. Atua como Psicólogo Clínico da Universidade Federal do Maranhão.