Não somos instantes


Ontem eu fui visitar minha avó, ela está doente. No final ela me disse: "ôh meu filho, eu te amo...".

Outro dia, eu estava deitado na rede. Alguém bateu no portão, eu fui atender. Era minha sogra, ela sempre está sorrindo. Quando ela entrou, com seus passos curtos e ligeiros, a casa inteira começou a rir também, das janelas às paredes.

Uma vez eu vi, de longe, meu pai sozinho no estacionamento do condomínio. Não sei para onde ele estava indo. Minha vista não o pôde alcançar, daí eu fotografei seu semblante.

Quando eu era adolescente eu tive uma briga com a minha mãe. Ela se assustou comigo e, por isso, não sabia o que responder até que ela me disse: "A gente não negocia valores".

Vejo a minha mulher dormindo ao meu lado. Às vezes quando ela se mexe, sinto, à distância, o cheiro dos seus cabelos. Eu olho para o teto e considero: não há algo mais belo ou tão bem feito em toda criação.

Por que me ocupo dessas coisas? Por que razão eu acolho cada um desses momentos em meu espírito como quem protege a chama de uma vela?

É pela brevidade da vida? Acaso estão certos aqueles que, insistentemente me dizem que somos meros instantes?

"Somos instantes", ninguém diz isso em um velório.

Quantos "instantes" morreram em Auschwitz? Isso não faz absolutamente qualquer sentido.

A primeira consequência de uma vida vivida como instante é o hedonismo niilista e auto-destrutivo. Se a morte é o fim de tudo, "comamos e bebamos, porque amanhã morreremos"

É verdade que a "vida é como a fumaça, nem bem se fez e já se desfaz". Porém Deus não criou instantes, Deus criou almas. Ele criou gente dotada de beleza e valor e, também colocou a eternidade em nossos corações.

É a eternidade que nos dá o tom certo da criação. Por meio dela, eu sei reconhecer na face de cada ser humano e, inclusive, no meu espelho, que o valor da vida não está em sua brevidade, mas na Fonte da eternidade.

É o senso de eternidade que nos faz tratar as coisas criadas e, principalmente as outras pessoas com a dignidade que convém.

Não somos instantes, somos feitos à imagem e semelhança do Eterno, eis aí a origem do valor de cada vida. A sua e a minha.

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Neemyas Dos Santos
Um pecador salvo pela graça de Deus, marido da Lívia, uma mulher cuja alma é semelhante a um carvalho. Psicólogo e Mestre em Psicologia. Atua como Psicólogo Clínico da Universidade Federal do Maranhão.