Admiração Infeliz


Você já sentiu que alguém gostaria de ter a vida que você tem? Houve um tempo da minha vida em que eu me sentia assim com frequência. Isso me trouxe muita insegurança. Você tem a sensação horrível de que, qualquer coisa que você venha criar, comprar ou fazer irá despertar um “despeite” em pessoas que estão à espreita de quem você é. O nome desse “despeite” é inveja.

É natural do ser humano considerar a inveja alheia como um mal externo. A inveja é tomada como algo inerente ao indivíduo. Alguém tem inveja porque é um invejoso. Então, a inveja parece nascer no coração das pessoas como erva daninha. Ela é fruto do próprio chão, ninguém a semeou ali. Mas será que é assim mesmo?

Gostamos de pensar assim porque isso nos isenta de qualquer responsabilidade quanto ao que produzimos nos outros. Há invejosos por aí? Certamente! Mas há também o semeador da inveja. Foi assim que eu descobri que eu não estava simplesmente cercado por invejosos, mas que eu mesmo havia semeado tal desgraça em seus corações enquanto buscava, ávida e desesperadamente, por admiração. Eu tinha responsabilidade.

Søren Kierkegaard ensina que a inveja é uma admiração infeliz que se dissimula. “O admirador que sente a impossibilidade de ser feliz cedendo à sua admiração, toma o partido de invejar”. A regra é simples, você quer que as pessoas te admirem e te adorem, mas você não admite que elas se tornem como você. É por isso que, semeamos a inveja apenas no coração de quem julgamos inferiores a nós mesmos.

Porém o problema não está na admiração em si, mas no fim dela. Se a admiração tem como fim, produzir no outro, insatisfação consigo, você está semeando inveja. Porém, só semeia inveja quem já é insatisfeito consigo mesmo. Que ironia seria poder descobrir que as pessoas que você mais inveja são tão insatisfeitas consigo mesmas quanto você é.

O narcisismo da vida moderna tornou a existência em vitrine. Por algum tempo as pessoas irão tentar ser como você, mas ao descobrirem que isso é impossível, alguém arranjará uma pedra para sua vidraça. A verdadeira admiração, por sua vez, nunca é autoproduzida. Ela inspira, não incita. Produz esperança ao invés de desespero.

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Neemyas Dos Santos
Um pecador salvo pela graça de Deus, marido da Lívia, uma mulher cuja alma é semelhante a um carvalho. Psicólogo e Mestre em Psicologia. Atua como Psicólogo Clínico da Universidade Federal do Maranhão.